Tu Poema de Amor

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Inicio . Cecília Meireles OS HOMENS GLORIOSOS

OS HOMENS GLORIOSOS

Sentei-me sem perguntas à beira da terra,

e ouvi narrarem-se casualmente os que passavam.

Tenho a garganta amarga e os olhos doloridos:

deixai-me esquecer o tempo,

inclinar nas mãos a testa desencantada,

e de mim mesma desaparecer,

— que o clamor dos homens gloriosos

cortou-me o coração de lado a lado.

 

Pois era um clamor de espadas bravias,

de espadas enlouquecidas e sem relâmpagos,

ah, sem relâmpagos...

pegajosas de lodo e sangue denso.

 

Como ficaram meus dias, e as flores claras que pensava!

Nuvens brandas, construindo mundos,

como se apagaram de repente!

 

Ah, o clamor dos homens gloriosos

atravessando ebriamente os mapas!

 

Antes o murmúrio da dor, esse murmúrio triste e simples

de lágrima interminável, com sua centelha ardente e eterna.

 

Senhor da Vida, leva-me para longe!

Quero retroceder aos aléns de mim mesma!

Converter-me em animal tranquilo,

em planta incomunicável,

em pedra sem respiração.

 

Quebra-me no giro dos ventos e das águas!

Reduze-me ao pó que fui!

Reduze a pó minha memória!

 

Reduze a pó

a memória dos homens, escutada e vivida.