Tu Poema de Amor

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Inicio . Euclides da Cunha CÉZARES E CZARES

CÉZARES E CZARES

Os Cézares cruéis,

Quando deixam da história a cena gigantéia,

Conservam geralmente a linha dos atores,

Que embora tenham tido espantosos papéis,

 

Nos quais dura se alteia

A desgraça espalhando angústias e terrores,

Querem que os acompanhe o aplauso da platéia...

 

 

Mário penetra em Roma

Pela sétima vez erguido ao consulado,

Na alma robusta o héróis traz sinistros desejos

De vingança, fatais anelos que não doma...

 

Sombrio, alucinado,

Não lhe quebram o assomo os eternos lampejos

Dos prélios que travou nas lutas do passado:

E a espada que fulgiu nas sombras da Germânia

 

Arranca-a em plena insânia,

Vibrando-a doidamente e doidamente a enterra

Em pleno coração da sua grande terra...

 

Mas vê-de-o no desterro...

Que imensa solidão! que pavoroso estrago!

Velho, proscrito e só!... ninguém à dor lhe assiste.

 

Só lhe é dado rever o alcantilado cerro

O vulto enorme e vago

Da pátria, além do mar... Dizei-me o que mais triste:

As ruínas daquela alma ou as ruínas de Cartago.

 

César trucida a Gália

E a Síria e o Egito e a Ibéria... À indômita ambição

Não lhe basta, porém, o império vitorioso...

Desvaira: vai buscar nos campos de Farsália

Os sonhos de Pompeu; e em Tapsos glorioso

 

A energia moral austera de Catão.

Triunfou! É feliz! Que importam dissabores

Dos rudes lutadores,

 

Feitos comparsas vis desses terríveis dramas,

Se Roma está em festa... e a Gália inteira em chamas!

 

No 'forum', certo dia:

'Tu quoque, Brute!' Estranho, este grito se ergueu.

Tumultua o recinto ante o ato formidável:

César ferido, o peito em sangue e a fronte fria

 

Vacila, mas o seu

Aprumo não destrói. Cai, num tombo impecável,

Tragicamente, aos pés das estátuas de Pompeu!

 

Ivã subjuga e prende

Ao carro triunfador os povos de dois mundos.

Reina, impera é o Czar! Sua terrível glória

Do pólo enregelado ao Cáucaso se estende.

 

Os Calmucos imundos

Cercam-lhe o trono e a vida. E ler-se sua história

É ouvir-se a todo instante os rumores profundos,

Que irrompem do tropel dos esquadrões bravios

 

Dos tártaros sombrios...

Imenso tropear que afoga os gritos cavos

E as doidas maldições de cem milhões de escravos!