Aqui e ali
me encontrareis,
entre um poema
ou em seu curso,
além e aquém,
oculto e claro,
vivo ou demente,
ou mesmo morto,
ou renascido
como meu sósia,
intermitente,
ferida tórpida.
pulso de febre,
nesse cavalo,
naquela tinta,
naquele poema
quase alicerce,
quase esse infante,
esse anjo surdo.
Ia esquecendo:
eu e meu sósia
somos momentos
entrelaçados.
Ei-lo veemente
volta a seu palco,
sobe a uma origem,
desce de novo,
envolto ou nu,
esse homem gêmeo,
jamais verdugo,
mas palma incerta,
sendo meu pai,
meu filho e neto
e aquele longe
porém limiar,
malgrado e clâmide
aberta e alípede,
foi argonauta,
podia se-lo
se esse jacinto
não fosse canto,
canto de galo
crepuscular,
profusamente
cedo se oculta
por essas laudas
sem perceber
seu fácil ímpeto
ante a palavra
visualizada;
mas de repente
desaparece.
Agora eu surjo
naquela esquina,
naquele pórtico
falam de mim;
ouço transido
esses vocábulos
desconhecidos,
emerjo em rios
que vão passar,
mergulho em rumos
acontecidos,
sucedo em mim,
depois vou indo
fundo e arrastado
na correnteza
que é de repentes.
Morto incorrupto
guardo meus naipes
mais pressentidos,
intercadentes,
desordenados,
não há atavios,
não há disfarces,
dissolução
dos prantos largos
manando laivos,
lanhando aspectos;
desacredito-me
perante os leves,
nem sabedor
de alas longevas,
se o porvindouro
é puro exórdio
precocemente
desencantado;
se os seus presságios
remanescidos,
salvo-condutos
manifestados;
correm desvios
vulgares trilhos,
que todavia
prossigo em mim,
minha progênie,
uns dementados,
outros co-réus,
reconciliando-me
com os mutilados
e este glossário
que é de meu sósia;
abastecido
alego dores,
crescentes cargas;
me patenteio,
fico exaltado
sem parecer;
depois me espreito
na curva adiante,
simbolizado,
metade em mim
inda nascendo,
a outra metade
superlotada;
então me sano
excluindo as nucas
executáveis;
não evidentes
nem aberrante
me envolvo de alma,
doce alimária
com alguns anexos
aparelhados
para colher
belas paisagens
e outros petrechos
do sósia amado;
quero sofrer-me,
quero imitar-me,
fico enpunhado
meu corpo no ar,
dependurado,
meio aderido
a alguns palhaços
insimulados,
portanto, instáveis,
muito insossos,
muitos até
beatificados;
ventos corteses
bem-parecidos
vêm agitar
nosso espantalho,
enquanto as aves
canoramente
se desaninham
de nossos braços,
ossos atados
a chão deitados,
chãos contestados
por figadais,
mas afinal
chãos estrelados
de algumas plantas
ambicionadas
por umas moças
que andando sós
se despetalam
e virar brisas,
fagueiras asas,
pelas janelas
passam nos vidros,
vão aos relógios
param os cucos,
e a vila fica
inteiriçada.
dormindo dentro
desse poema
recomeçado
por novo sósia.