Tu Poema de Amor

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Inicio . Jorge de Lima INVENÇÕES DE ORFEU VIII

INVENÇÕES DE ORFEU VIII

Se falta alguém nesses versos

pele vento interminável,

pelas arenas de estátuas,

sucedam-lhe os cegos olhos

sacudidos pelos medos,

mãos de chuvas lhe inteiricem

o corpo com algas remissas

e com matérias tranqüilas

tão soturna como os poços,

exasperados invernos,

ombros de escova comida,

as asas secas caídas,

ante seus netos calados;

e incorporem-se a esse alvitre

esse sabor de cortiça,

essas esponjas morridas,

essas marés estanhadas,

essas escunas de espáduas

estritamente fechadas

como casas de abandono,

restringem-se os conciliábulos,

certos sigilos de pez,

certas coisas enlutadas,

refúgios, dramas ocultos,

pois as rosas são de trapos

e os fios menos que teias,

menos que finos agora,

e as camisas sem os pêlos

enterrados nas ilhargas,

vestem enganos e punhos

e crimes em vez de adegas,

mas tudo em vão, mesmo as plumas,

mesmo os ausentes e as vozes

aderidas a fragmentos

aí moram degredadas,

listrando as grades, de faces

que não conhecem espelhos