Tu Poema de Amor

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LUA NOVA

Mãe dos frutos, Jaci, no alto espaço

Ei-la assoma serena e indecisa:

Sopro é dela esta lânguida brisa

Que sussurra na terra e no mar.

Não se mira nas águas do rio,

Nem as ervas do campo branqueia;

Vaga e incerta ela vem, como a idéia

Que inda apenas começa a espontar.

 

E iam todos; guerreiros, donzelas,

Velhos, moços, as redes deixavam;

Rudes gritos na aldeia soavam,

Vivos olhos fugiam p’ra o céu:

Iam vê-la, Jaci, mãe dos frutos,

Que, entre um grupo de brancas estrelas,

Mal cintila: nem pôde vencê-las,

Que inda o rosto lhe cobre amplo véu.

***

E um guerreiro: “Jaci, doce amada,

Retempera-me as forças; não veja

Olho adverso, na dura peleja,

Este braço já frouxo cair.

Vibre a seta, que ao longe derruba

Tajaçu, que roncando caminha;

Nem lhe escape serpente daninha,

Nem lhe fuja pesado tapir.”

***

E uma virgem: “Jaci, doce amada,

Dobra os galhos, carrega esses ramos

Do arvoredo co’as frutas* que damos

Aos valentes guerreiros, que eu vou

A buscá-los na mata sombria,

Por trazê-los ao moço prudente,

Que venceu tanta guerra valente,

E estes olhos consigo levou.”

***

E um ancião, que a saudara já muitos,

Muitos dias: “Jaci, doce amada,

Dá que seja mais longa a jornada,

Dá que eu possa saudar-te o nascer,

Quando o filho do filho, que hei visto

Triunfar de inimigo execrando,

Possa as pontas de um arco dobrando

Contra os arcos contrários vencer.”

***

E eles riam os fortes guerreiros,

E as donzelas e esposas cantavam,

E eram risos que d’alma brotavam,

E eram cantos de paz e de amor.

Rude peito criado nas brenhas,

— Rude embora — terreno é propício;

Que onde o gérmen lançou benefício

Brota, enfolha, verdeja, abre em flor.