Tu Poema de Amor

  • Aumentar fuente
  • Fuente predeterminada
  • Disminuir fuente
Inicio . Olavo Bilac A UM POETA MORTO

A UM POETA MORTO

Quando a primeira vez a harmonia secreta

De uma lira acordou, gemendo, a terra inteira,

- Dentro do coração do primeiro poeta

Desabrochou a flor da lágrima primeira.

 

E o poeta sentiu os olhos rasos de água;

Subiu-lhe â boca, ansioso, o primeiro queixume:

Tinha nascido a flor da Paixão e da Mágoa,

Que possui, como a rosa, espinhos e perfume.

 

E na terra, por onde o sonhador passava,

Ia a roxa corola espalhando as sementes:

De modo que, a brilhar, pelo solo ficava

Uma vegetação de lágrimas ardentes.

 

Foi assim que se fez a Via Dolorosa,

A avenida ensombrada e triste da Saudade,

Onde se arrasta, à noite, a procissão chorosa

Dos órfãos do carinho e da felicidade.

 

Recalcando no peito os gritos e os soluços,

Tu conheceste bem essa longa avenida,

- Tu que, chorando em vão, te esfalfaste, de bruços,

Para, infeliz, galgar o Calvário da Vida.

 

Teu pé também deixou um sinal neste solo;

Também por este solo arrastaste o teu manto...

E, ó Musa, a harpa infeliz que sustinhas ao colo,

Passou para outras mãos, molhou-se de outro pranto.

 

Mas tua alma ficou, livre da desventura,

Docemente sonhando, as delícias da lua:

Entre as flores, agora, uma outra flor fulgura,

Guardando na corola uma lembrança tua...

 

O aroma dessa flor, que o teu martírio encerra,

Se imortalizará, pelas almas disperso:

- Porque purificou a torpeza da terra

Quem deixou sobre a terra uma lágrima e um verso.